Annie foi
enviada a um ambulatório pelo médico da família. Duas semanas antes, perdera a
voz e era incapaz de falar acima de murmúrios. Os seus sintomas apareceram
subitamente, após o regresso de um encontro com o seu namorado (o primeiro que
ela tinha), um jovem de 21 anos a quem fora proibida de ver.
Durante a
entrevista inicial, Annie não parecia excessivamente perturbada a respeito do
seu problema. Quando o entrevistador a interrogou sobre as consequências de
seus sintomas, respondeu num sussurro. “Acho que não poderei ter mais namoros.
Poderei?”
Uma segunda
entrevista foi realizada no dia seguinte, com Annie sob hipnose. Um profundo
transe hipnótico foi induzido facilmente e, durante a entrevista, Annie falou
fluentemente em tom normal de voz. Relatou que os seus sintomas se manifestaram
quando voltou a casa de um encontro durante o qual fora beijada “contra a sua
vontade”. Estava muito perturbada com a possibilidade de engravidar e não sabia
como explicar isso à mãe. (A sua crença na fecundação oral era apenas uma das suas numerosas concepções errôneas sobre o sexo.) Em subsequentes entrevistas hipnóticas, os
sintomas de Annie tornaram-se claros.
Ela era filha única e tinha sido criada, a maior parte de sua vida, pela mãe,
depois de o pai ter sido preso (Annie tinha então 6 anos) por delitos sexuais.
Antes de sua prisão, tentara violar Annie. A mãe de Annie era uma fanática
religiosa; nunca discutia o pai de Annie ou qualquer outra coisa, exceto a
igreja e a religião; qualquer menção de termos sexuais era estritamente proibida.
A vida
familial repressiva impedira que Annie tivesse sentimentos sexuais normais e
adquirisse qualquer conhecimento exato a respeito de sexo. Fora levada a
sentir-se culpada e pecadora por causa de sua natureza física. Quando
desobedeceu à mãe e foi a um encontro com um namorado, sentiu-se incapaz de
vencer a intensa angústia que daí resultou. A sua “perda de voz” permitiu que
escapasse do conflito, porque não podia contar à mãe que “ tinha errado”.